Analisamos a recente volatilidade dos mercados, destacando a bolha de tecnologia, as mudanças no Banco do Japão e os dados econômicos dos EUA. Confira também nossas análises sobre o ouro e o par EURUSD e entenda como esses fatores moldam o cenário financeiro atual.
A semana começou vermelha em praticamente todos os mercados. A bolsa japonesa, que abre antes das demais, ativou o mecanismo de circuit breaker, interrompendo as negociações temporariamente devido ao forte movimento de baixa. Em seguida, as bolsas da Europa e dos EUA confirmaram que o movimento de queda seria global, não deixando nem o mercado cripto de fora.
Na semana passada, após a sinalização de Jerome Powell sobre um corte de juros, o mercado inicialmente reagiu com otimismo, mas logo depois os ativos caíram. Dados do ISM e do auxílio-desemprego, piores que o esperado, aumentaram o temor de um pouso forçado nos EUA. O relatório de emprego de julho intensificou essas preocupações, levando o mercado a prever um corte de 0,50 ponto percentual em setembro, totalizando -1,25 ponto percentual ao final do ano. Citi e JPMorgan esperam cortes de -0,50 ponto percentual em cada uma das próximas reuniões. Apesar de alguns considerarem a reação exagerada, a suspeita de que o Fed está atrasado cresceu. Balanços de grandes empresas de tecnologia também decepcionaram.
No Brasil, a economia mostrou bons resultados com a queda na taxa de desemprego e aumento na produção industrial, mas o déficit fiscal, que atingiu 0,78% do PIB até junho, preocupa.
Voltando do final de semana, a forte aversão ao risco, iniciada na semana passada devido a dados e balanços fracos, se intensificou nesta segunda-feira, resultando em uma liquidação global de ações. Investidores estão preocupados com a desaceleração da economia americana, com perdas acentuadas especialmente no setor de tecnologia. O Dow Jones caiu 2,84%, o S&P 500 recuou 3,30% e a Nasdaq teve sua maior queda intradiária em quase 2,5 anos, de 3,95%. O índice de volatilidade VIX subiu 83,28%, atingindo níveis não vistos desde a pandemia. Apesar de dados positivos do setor de serviços nos EUA, o alívio foi insuficiente para reverter as quedas. No Brasil, o Ibovespa caiu 1,35%. Analistas afirmam que a situação não está completamente quebrada, mas está se deteriorando, e que o Fed precisa agir rapidamente. O dólar perdeu valor em relação a outras moedas, enquanto no Brasil, subiu. Juros futuros oscilaram, subindo recentemente devido à alta do dólar e à piora das projeções do Boletim Focus, às vésperas da ata do Copom e do IPCA.
Desenhando o cenário
Há três fatores-chave para o atual pânico dos mercados. Primeiramente, a bolha de tecnologia, sobre a qual venho falando há um bom tempo. Após a divulgação dos balanços do segundo trimestre, os números não agradaram, levando a um forte movimento de liquidação.
Em seguida, o anúncio do Banco do Japão na semana passada, relatando futuros aumentos na taxa de juros base do iene, principal moeda utilizada para operações de carry trade. As taxas de juros do iene não eram alteradas há 18 anos, e um ciclo de alta nessa moeda muda todo um cenário que já era explorado há décadas. Há um vídeo no canal da ZERO explicando a operação carry trade, intitulado “Descubra a nova estratégia no FOREX”.
O terceiro ponto foi o payroll divulgado na sexta-feira, que veio muito abaixo do esperado. Apesar de ser exatamente o que se desejava para iniciar o ciclo de baixa dos juros, um número tão deslocado ativa um indicador de recessão técnica nos EUA.
Somando este último fator aos anteriores, cria-se o contexto de pânico que os mercados estão enfrentando neste início de semana. Pode ser histeria apenas; é necessário observar os próximos indicadores, especialmente os de inflação, e os discursos do presidente do Banco Central americano para entender quais medidas serão tomadas.
Para esta semana
A semana vem fraca de indicadores nos EUA, o que deixa o mercado mais especulativo e sem rumo, apesar do PMI de hoje ter vindo forte. No Brasil, a ata do Copom será divulgada amanhã, sendo importante para entender a última sinalização do Banco Central. Na sexta-feira, será divulgado o IPCA de julho. Atenção à volatilidade do dólar contra o real esta semana.
Análise do Ouro
O contrato de ouro XAUUSD deixou dois candles de indecisão no final da semana passada, após um rompimento que levou o ativo à máxima histórica. Os candles de indecisão já indicavam que o movimento de alta era inconsistente, e nesta segunda-feira houve uma forte desvalorização, com queda de mais de 3%, levando o ativo até a média móvel de 50 períodos do gráfico diário. Essa média móvel serviu de suporte e acalmou o movimento de queda. A partir de agora, o ouro retorna para a zona de consolidação, onde tende a permanecer até que novos indicadores clarifiquem o contexto atual.
Análise do Euro/Dólar
O par EURUSD estava em um movimento de correção após tocar a banda superior do canal de lateralização. No entanto, no último pregão e hoje, apresentou forte valorização devido à desvalorização do dólar americano em nível global. Apesar da forte alta de hoje, o par deixou um grande pavio acima da resistência, indicando rejeição do rompimento. Caso o rompimento se confirme, não se espera que seja direcional e forte, mantendo o ativo no mesmo clima de baixa oscilação que vem apresentando, especialmente por conta do volume médio, que é metade do atual. O próximo candle do gráfico diário será observado atentamente; se fechar dentro da zona de consolidação, pode ser um bom gatilho para venda.
Artigo por Marcos Praça, Analista ZERO Markets
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