Temor bancário diminui e Juros voltam a subir

O temor bancário diminui e os juros voltam a subir – mas ainda existe uma forte preocupação com a inflação e uma provável recessão cada vez mais próxima. As apostas para a próxima reunião do FOMC estão bastante voláteis: é importante destacar que o mercado já está precificando uma queda significativa nos juros americanos até o final do ano – totalmente na contra-mão das análise da Blackrock, maior corretora de ativos do mundo. Entenda o que está acontecendo no mercado financeiro mundial e como isso pode impactar seus investimentos.

Confira o Panorama Macroeconômico da semana com nosso analista, Marcos Praça.

O temor bancário diminuiu.

Voltamos à calmaria, mas não completamente. O banco First Citizen fechou um acordo com o FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), órgão americano similar ao FGC (Fundo Garantidor de Crédito) no Brasil, que assegura aos clientes um reembolso de até 250 mil dólares caso algum banco americano venha a falir.

No caso específico do SVB (Silicon Valley Bank) , o FDIC foi forçado pelo FED (Federal Reserve Board) a assumir todas as obrigações do Banco do Vale do Silício, independentemente do valor que exceda os 250 mil dólares. Por isso, o acordo para a compra do SVB foi feito diretamente com o FDIC. Após uma licitação bastante concorrida, o banco First Citizens foi o escolhido. Agora, os correntistas do SVB se tornarão automaticamente correntistas do First Citizens Bank, segundo o FDIC.

Sem dúvida, isso tranquilizou o mercado, que reagiu imediatamente, tanto nos juros futuros quanto nas apostas do FOMC. Afinal, em um tempo assustadoramente rápido, abafaram o problema com a venda do SVB e do Credit Suisse, com a ajuda dos governos locais. Isso demonstra forte preocupação e responsabilidade das autoridades em evitar problemas maiores nesse setor, trazendo maior confiança aos investidores.

Os juros futuros voltaram a subir.

Os juros americanos voltaram a subir esta semana com a expectativa de que o FED não precisará mais demonstrar um socorro direto aos bancos. Sendo assim, o foco volta-se novamente para o maior vilão do momento, a inflação. O Citi Bank disse na terça-feira que o FED está subestimando a inflação e terá que continuar elevando os juros.

O contrato US02Y, que corresponde aos juros americanos com vencimento de 2 anos, subiu 15% nesta semana desde a sua mínima em 6 meses, atingida na semana passada com os temores bancários. Com essa alta, voltamos a negociar acima dos 4%. Essa tendência de alta nos juros futuros sugere que o mercado está compreendendo que os recentes eventos não devem alterar a trajetória do aperto monetário, e que, ao invés disso, são meros indícios de uma recessão iminente.

US02Y, 1D (TradingView)

As expectativas do mercado estão cada vez mais voláteis em relação ao FOMC.

As apostas para a próxima reunião do FOMC (Federal Open Market Committee) têm sido extremamente instáveis este mês, variando de uma aposta majoritária em um ajuste de 0,75% para uma aposta pequena, porém ousada, de um ajuste negativo de -0,25%. No momento atual, as apostas são de 59% para manutenção e 41% para um ajuste positivo de 0,25% na reunião do dia 3 de maio.

Outro dado importante a ser analisado são as apostas para o final do ano. Ainda restam seis reuniões do FOMC este ano, em que é possível operar apostas para ajustes positivos, negativos ou manutenção da taxa de juros americana. Curiosamente, a última reunião do ano, em 13 de dezembro, tem a aposta majoritária de 35% em 4,5%, o que significa uma queda de -0,5% do patamar atual. Em segundo lugar, há 30% de apostas para o fechamento do ano em 4,25%, o que indica um ajuste negativo de -0,75%.

FedWatch Tool, 13 DEC Meeting (CMEGROUP)

O mais importante a ser observado aqui é o fato de que o mercado já está precificando uma queda significativa nos juros americanos até o final do ano, porém, essa queda não é uma opção viável de acordo com Jerome Powell, presidente do FED, que já deixou claro que essa possibilidade não está na mesa.

De acordo com a BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, o mercado está equivocado em suas apostas e pode pagar um preço alto por isso. Não só pelo pessimismo em relação à inflação, mas também pelas declarações do FED e seus integrantes após a última reunião, que indicaram “uma nova fase mais matizada de contenção da inflação: menos luta, mas ainda sem cortes de juros“.

Análise do Ouro.

Enquanto o contrato do dólar (DXY) segue em desvalorização, o ouro mantém seu momento de alta. Conforme análise do panorama da semana passada, o contrato de ouro XAUUSD iniciou um movimento de lateralização, mantendo-se consolidado entre o suporte em US$1.950 e a resistência em US$2.000. Dentro dessa zona de consolidação, não é possível identificar uma tendência de médio/longo prazo, mas sim uma zona de acumulação sensível, onde qualquer novo indicador ou evento extraordinário pode provocar um movimento rápido e direcional.

XAUUSD, 1D (TradingView)